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Ana

Ana conheceu um homem numa rede social, trocaram mensagens até acontecer o primeiro encontro, onde eles se deram muito bem, compartilhavam gosto por músicas, filmes, comidas, ideias sobre o mundo, a vida, pareciam estar em perfeita sintonia. Ela mal podia acreditar que sua sorte havia chegado. Afinal eram anos se envolvendo com diversos homens, mas nunca dava em algo, pois todos, absolutamente todos sempre diziam que não estavam prontos para algo sério, que a achavam uma mulher incrível e que o problema era sempre com eles, mas depois de sumirem por um tempo eles apareciam namorando quase sempre uma mulher mais próxima do padrão estético imposto às mulheres, ao contrário dela. Apesar de acreditar que dessa vez era diferente, em alguns momentos ela sentia insegurança ao ponto de duvidar se realmente um homem bacana como aquele iria se interessar por ela, então mantinha o cuidado com as palavras, com sua aparência, sempre buscando ser sua melhor versão para cada vez ser aceita. Poucos dias depois do primeiro encontro, eles pareciam estar imersos naquela relação, eram trocas de mensagens o dia todo e até tinham apelidos carinhosos. Bastante animada começou a criar expectativas de momentos que poderiam passar juntos, mas eles não aconteciam e de repente começou a estranhar que nunca estavam juntos aos finais de semana, que ele sempre tinha algum tipo de compromisso e percebeu que nada era muito claro sobre sua vida dele, mesmo que estivesse disponível o dia todo por meio de mensagens.

Estranhando esse comportamento começou a procurar nas redes sociais pistas que mostrassem que ele se relacionava com outra pessoa, até tinha coisas de algumas pessoas, mas nada explicito, então ela passou a duvidar de si, achando que poderia estar paranóica, afinal tudo parecia que eles eram um casal apaixonado. O tempo foi passando e a dinâmica da relação era a mesma, ela estava desconfiada, mas tinha medo de pressionar ele e ficar só. Tentava sempre encontrar algo, mas tudo parecia confuso, até que um dia ela recebeu uma mensagem de uma mulher perguntando se ela também namorava com aquele homem. O céu parecia desabar sobre sua cabeça, ficou extremamente desapontada, mas no fundo esperava que pudesse acontecer algo do tipo. Imediatamente mandou uma sequência de mensagens para seu quase namorado, que não respondia, deixando-a desestabilizada e ansiosa, ela precisava de respostas, queria entender o porque ele a envolveu se não pretendia ficar com ela, mas seguia sem respostas e só depois de muitas horas ele respondeu sem negar a relação com a outra mulher, mas também sem assumir, disse que precisava de um tempo e sumiu.

Ana seguiu triste por dias, acreditando que não tinha valor e que talvez tivesse algo de errado com ela, pois nunca era escolhida para ser amada, não conseguia se concentrar no trabalho, nos estudos, quando estava com os amigos ficava alheia, pensando no que deu de errado, ela tentava conhecer outros homens, mas tudo parecia o mais do mesmo. Até que seu ex quase namorado reapareceu, se aproximando dizendo estar arrependido, se desculpando pois estava confuso, mas que tinha dado um ponto final na ‘’outra história”, mandando mensagens e chamando pelos apelidos fofos e ela decidiu dar uma chance.

Ele já não chamava Ana para a casa dele apenas durante a semana, mas às sextas também e para ela parecia um sinal de que a relação estava evoluindo, até ciúmes ele começou a demonstrar, deixando-a um pouco incomodada, mas certa de que gostava dela. Tudo parecia estar caminhando para um namoro, eles faziam planos de viagens, combinavam passeios, mas ela foi percebendo que nada saia do imaginário e que apesar de estarem juntos às sextas, ele sempre tinha compromissos no resto do final de semana, além disso nunca estavam juntos em lugares públicos, tudo se resumia a estar na casa dele. Desconfiada, novamente se viu paranoica, buscando pistas e percebeu que a ‘’outra história’’ não havia acabado, assim como a outra moça percebeu que continuava sendo enganada e novamente conversou com Ana, expondo toda a verdade, se mostrando confusa e magoada. Ao se comunicarem, elas entenderam que estavam sendo manipuladas, tentaram se afastar diversas vezes, mas ele procurava, insistia, manipulava com conversas fofas e promessas. Naquela altura Ana tinha entendido que aquela relação não era saudável, que aquele homem era abusivo, pois manipulava ela e a outra mulher, atingindo a autoestima delas e foi assim que conseguiu perceber as táticas e tentava se desvencilhar.
Mantendo contato com a outra mulher, elas descobriram muitas mentiras, histórias sórdidas, suas vítimas eram mulheres diversas, mas algo sempre em comum, todas carregavam algo em si que deixava sua autoestima vulnerável, mulheres gordas, negras, com deficiência, transtornos psicológicos, mais velhas, mães solo, em geral mulheres preteridas pela sociedade.
Ana sabia que precisava sair daquela relação tóxica, tinha noção de que tudo aquilo que estava vivendo era muito errado, pois vivia na angústia de não saber qual seria o próximo acontecimento, passou a ter crises de ansiedade e se afastou das amigas, pois sentia vergonha e medo de ser repreendida. Aos poucos ela conseguiu se afastar dele e para sua sorte e azar de outra mulher, ele se apaixonou e sumiu de sua vida.