Daniela foi casada por 6 anos e tem uma filha de 4 anos, tempo que ela ficou sem trabalhar fora de casa. Junto ao seu marido combinaram de ficar apenas cuidando da filha deles, para ter mais tempo de qualidade com a menina e seu marido assumiu custear todas as despesas em nome do bem estar da família. O puerpério foi um momento muito difícil de atravessar, pois antes da maternidade era ativa, conseguia se sustentar mesmo trabalhando de forma autônoma, tinha muitos contatos, se relacionava bem e agora se via imersa a cuidar da casa e da família, não que fosse ruim, mas ela vivia apenas para isso. Com o passar dos anos começou a se incomodar com sua imagem e aconselhada pelas poucas amigas que permaneceram em sua vida, foi em busca de se cuidar, entrou na academia, comprou roupas novas, mudou o corte de cabelo, estava em dia com depilação e as unhas feitas e por um tempo isso a manteve animada, fazia se sentir cuidada, mas a sobrecarga emocional parecia não diminuir e todas aquelas coisas eram apenas distrações para um problema maior, que nem conseguia nomear.
Daniela cuidava de tudo, não apenas das tarefas domésticas e dos cuidados com a filha, mas estava sempre buscando soluções para problemas que surgiam na vida em família, na casa e há tempos de seu marido, que atravessava um momento difícil no trabalho. Tudo parecia começar a desmoronar, seu marido estava sempre estressado e ela cansada, percebia que estavam desconectados, eles se cobravam, pedia que ele se cuidasse e fosse mais ativo nos detalhes nos cuidados da família e ele pedia que ela fosse menos exigente e mais contida nos gastos. Decidiu que empreender poderia ser uma ótima solução e até conseguiu fazer uns trabalhos, mas estressada e cansada não dava conta de produzir e começou a entrar num ciclo de adoecimento emocional e físico. Tinha dias bons, mas os ruins pareciam predominar, ela tentava sair dessa situação, sentia que estava amarrada e em profunda tristeza, tentando entender o que estava acontecendo. Nesse tempo seu marido foi demitido e com o dinheiro da rescisão investiu em um negócio próprio, ele estava muito animado e seu humor havia melhorado, tratando ela melhor. Por amor, companheirismo e condicionada a cuidar de tudo ela o ajudou em diversos detalhes, o negócio cresceu, seguiu bem e parecia que as coisas tinham melhorado, enfim uma boa fase. Mas eles ainda estavam desconectados como casal, seu marido a tratava com mal humor em alguns momentos, o que acabava em discussões, ela magoada se distanciava e ele se aproximava resgatando a sintonia que eles tinham no começo da relação. Essa dinâmica foi se tornando um padrão e ela começou a considerar a separação já não via saída nas conversas entre eles, mas era uma decisão difícil e o medo do futuro a paralisava, junto a isso seu marido se mostrava tentando ajustar as coisas entre eles.
Daniela apesar de confiante de que poderiam estar numa boa fase, seguia sobrecarregada, sentindo que o tempo estava passando e não estava realizando nada para si, apenas cuidando minuciosamente de tudo e todos, com isso foi adoecendo e novamente se via no ciclo de brigas, percebia o marido distante e nada do que ela fizesse parecia ser suficiente para salvar aquela relação, ela pedia que ele também cuidasse de si para que juntos pudessem cuidar um do outro, mas ele se negava a aceitar que também tinha questões emocionais a serem analisadas, acusava ela de ser exigente, que tudo deveria ser do jeito dela e assim o afastamento entre eles foi aumentando. Começou a ficar intrigada com alguns comportamentos de seu marido e não demorou muito para descobrir que ele tinha traído ela, justamente na época em que começava o novo negócio e que ela esteve ao seu lado ajudando em tudo, mesmo com seus maus tratos.
O mundo dela acabou, estava sentindo não apenas a dor da traição, mas por tudo que tinha feito por ele, pela relação, toda a paciência que teve em aguentar as fases ruins, tudo que se anulou para o bem dele, tudo que havia tentado parecia ter sido em vão e seu marido justificou seu erro fazendo-a se sentir culpada, dizendo que traiu porque a relação não estava boa, pois ela cobrava demais e não o valorizava. Confusa aceitou perdoar, afinal terminar um casamento com filhos não é tão simples e mesmo com a autoestima e a confiança abaladas persistiu em tentar salvar a relação, mas as crises só aumentaram, desentendimentos, brigas, tudo estava ruim, foi um processo longo até entender que não havia o que salvar, foi quando decidiu pela separação, que foi outro processo doloroso pelo qual passou, pois seu marido não aceitava o fim do casamento, oscilando entre promessas de melhora e violência psicológica, patrimonial, verbal e chegando a agredi-la.
Daniela conseguiu seguir a diante, mesmo fragilizada por um bom tempo, com as mágoas ainda sentidas como um machucado que acabou de acontecer, vivendo um dia após o outro se reconstruindo, voltou ao mercado de trabalho, assumindo aos poucos sua autonomia e apesar de cansada por cuidar praticamente sozinha da filha, se sente menos sobrecarregada emocionalmente, pois agora está focada apenas em si.